Hoje de manhã enquanto Malú tirava a sonequinha da manhã li esse artigo publicado no Diário de São Paulo no dia 14.. o texto fala basicamente sobre as mulheres que não podem ou não querem amamentar.Seu filho tem fome." A frase, dita por uma pediatra na primeira consulta de João, na época com 10 dias, caiu como uma bomba para a mãe, a dona de casa Luisa Cortes, de 32 anos. "Minha gravidez foi normal, e tenho boa saúde. Não entendi por que o meu leite não era suficiente. Fiquei arrasada, me sentindo a pior mulher do mundo." João então foi submetido a uma amamentação dupla - primeiro o peito, depois a mamadeira. Ele tem hoje 4 anos, come de tudo, é esperto e falante. Mas Luisa, vira e mexe, ainda se assombra com o passado. "Se ele está mais baixo que os amigos, penso que foi por não ter conseguido amamentá-lo."
O sofrimento desta mãe é também o de muitas mulheres que não conseguem, ou então decidem, por qualquer outro motivo, não amamentar. Muitos médicos defendem a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde), chancelada pelo Ministério da Saúde brasileiro, a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e a Sociedade Brasileira de Pediatria: dar somente leite materno à criança, até os seis meses. Nada de água, chazinho ou composições industriais que prometem aliviar as cólicas dos recém-nascidos.
"O leite humano é o alimento mais completo, tem tudo o que uma criança precisa nos primeiros meses de vida, carboidratos, proteínas, lipídeos e, inclusive, anticorpos que a protegem contra infecções e alergias", afirma Corintio Mariani Neto, presidente da Comissão Nacional de Aleitamento Materno da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. "Não há leite artificial, por mais enriquecido, comparável a ele."
O pediatra Jairo Len também concorda com a política da OMS e dos órgãos de saúde pública, mas ressalta que as campanhas geram uma cobrança enorme sobre as mulheres. "Não dá para falar mal do leite materno, mas também não dá para ignorar que algumas mulheres não conseguem amamentar", diz ele.
A administradora de empresa Silvia Gomes, 38 anos, teve diagnóstico de hepatite C no início da gravidez do primeiro filho, hoje com 10 anos. Ela não teve de se submeter a tratamento porque a carga viral era muito baixa. Mas, quando Gabriel nasceu, o médico a avisou que, se o amamentasse, ele podia ser contaminado e não passaria da adolescência. "Optei por alimentá-lo artificialmente, mas me senti muito mal. Achava que meu filho teria problemas de nutrição e imunidade, e a culpa seria minha."
Depois de oito anos, Silvia teve outro filho, hoje com 2 anos, e conseguiu amamentá-lo naturalmente. Mas, passados três meses, ela resolveu parar de dar o peito, por não aguentar o desgaste de estar sempre alerta à vontade do bebê. Foi então que sentiu na pele o impacto das campanhas de aleitamento materno. "Um dia, dei a mamadeira ao Rodrigo na frente do meu cunhado e ele, surpreso, perguntou: ?E o peito??. Várias vezes, após ter decidido dar apenas leite artificial, voltei a amamentá-lo no peito para aliviar a culpa. Pensava que estava sendo egoísta em optar pelo meu descanso, e não pelo mais saudável para o meu filho", diz. Silvia só resolveu o dilema quando se deu conta de que seu cansaço não poderia ser saudável para um bebê completamente dependente dela. "Hoje a questão é tranquila, mas a patrulha da amamentação tenta tirar o poder de decisão da mãe."
Apesar dos benefícios do leite materno e das campanhas mundiais, as taxas de aleitamento natural no mundo não são lá grandes coisas. Segundo a OMS, as crianças menores de 6 meses alimentadas só no peito não chegam a 35%. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, no primeiro mês de vida de um bebê, 53,1% das mulheres amamentam naturalmente. Mas o índice cai ao longo do tempo: 41,4% (segundo mês), 30,6% (terceiro), 21,6% (quarto mês), 14,7% (quinto) e 9,7% (sexto). No Estado de São Paulo, o quadro é semelhante. Começa com 36,2% das mulheres dando só o peito no primeiro mês de vida e, no sexto, o índice cai para 7,6%.
Lavagem cerebral
Diz a história que, até o início do século 20, praticamente todas as crianças mamaram no peito. Por volta de 1900, foi criada a lata metálica e, depois, o leite em pó. Norma Sanzi, 78 anos, mãe de quatro adultos, não amamentou naturalmente nenhum deles. "Os médicos diziam que o leite artificial era melhor do que o humano. Para mim, acabou sendo muito prático, porque tive um filho atrás do outro", diz. As coisas começaram a mudar no final dos anos 70, quando se iniciou a valorização do leite materno.
As campanhas foram e continuam sendo importantes. Mas há quem acredite que elas também funcionam como uma espécie de "lavagem cerebral", deixando as mulheres com sentimentos de culpa absolutamente desnecessários. "O leite materno traz várias vantagens, é prático, econômico e reforça o vínculo entre mãe e filho. Mas a imunidade não é passada por ele, como muitos acreditam. As fórmulas lácteas evoluíram e são capazes de substituir de forma competente o leite materno. Isso não significa que eu estimule o aleitamento artificial. Mas, nos casos em que o natural é impraticável, não há razão para preocupações ou culpas exageradas", afirma Len.
Em tempo: pesquisas indicam que crianças que nunca receberam leite materno apresentam crescimento, ganho de peso e todos os quesitos de saúde 100% satisfatórios. Além disso, têm uma imunidade absolutamente normal e não ficam mais doentes do que as crianças amamentadas exclusivamente no peito.
Depois dos seis meses só recebendo leite materno, a criança, segundo recomendação da OMS, deve começar a experimentar outros alimentos de forma lenta e gradual, mas o peito precisa ser mantido até os 2 anos ou mais. O governo brasileiro concorda. Texto do guia "Promovendo o Aleitamento Materno" diz: "A amamentação, isto é, dar o peito, é a primeira e mais importante ação no combate à fome, às doenças e à desnutrição, e no fortalecimento do vínculo fundamente entre mãe e filho".
Seja como for, muitas mulheres reagem. "É um contra-senso. A licença-maternidade é de quatro meses, em poucos casos de seis. Como a gente pode amamentar tanto tempo se temos de trabalhar para dar uma vida digna aos filhos?", pergunta a comerciante Maria Paula Odete, de 28 anos. Com certeza, o aleitamento tem consequências importantes na vida das mães. Por um lado, elas são pressionadas a praticar aleitamentos prolongados. Por outro, pela concorrência no mercado de trabalho. "Claro que tenho medo de perder o emprego só porque quero amamentar."
Bia Rosa, 36 anos, relações-públicas da galeria de arte Nara Roesler, nos Jardins, é mãe de dois meninos, um de quase 4 anos e outro de 2, que mamaram no peito até os 6 e 4 meses, respectivamente. "Mesmo que eu tivesse tido muito leite, jamais daria o peito até os 2 anos. É muito estranho imaginar o filho andando, falando e mamando no peito." Ela também diz que nunca se privou por causa da amamentação. "Às vezes, eu tirava o leite com a bombinha para poder sair e me divertir um pouco."
A historiadora Patricia Pacini, 47 anos, viveu três experiências diferentes com cada um de seus filhos. O primeiro, que nasceu com pouco mais de 2,8 kg, mamou no peito por um mês e meio. "Ele era pequeno demais e gritava de fome", diz. "Eu ficava mais estressada de vê-lo com fome do que com o fato de dar mamadeira." O segundo mamou até os 3 meses e o terceiro, até os 5. "Acho que fui melhorando, mas não daria o peito mais tempo do que isso." Ela diz que conhece mulheres que amamentam no peito e se sentem vigorosas e maravilhosas por isso.
O pediatra Jairo Len não vê vantagens em se manter uma criança no peito até os 2 anos. "Mães que não conseguem desmamar, em geral, ficam loucas e também cheias de culpa. Além disso, a criança pode se tornar impaciente, sem limites. A experiência ainda pode gerar outros problemas."
Recentemente, um artigo da americana Hanna Rosin, intitulado "Contra o Aleitamento Materno", esquentou o debate na internet ao afirmar que há uma ditadura da amamentação e que as mulheres deveriam ter o direito de optar.
Um recém-nascido mama entre oito e 12 vezes ao dia, a cada três horas. Cada mamada demora, em média, entre 15 e 30 minutos. Parece fácil. Só que, depois de mamar, em geral a criança precisa arrotar, ter a fralda trocada e, com sorte, dormir. Infelizmente, o processo não é sempre assim, e a mãe acaba ficando 24 horas à disposição do bebê. Portanto, o debate em torno do aleitamento natural versus o artificial ainda promete grandes discussões.
Os médicos divergem
O pediatra Jairo Len afirma que algumas situações podem impedir ou dificultar o aleitamento materno. Segundo ele, plásticas de redução de mamas, uso contínuo de determinados medicamentos, como antidepressivos, má orientação no início do aleitamento, retorno ao trabalho, baixo ganho de peso pelo recém-nascido e estresse - incluído aí a expectativa de amamentar ? podem desencadear bloqueios.
Já para Corintio Mariani Neto, há poucos casos em que a criança não pode ser amamentada naturalmente. Até as adotadas, segundo ele, têm chance por meio de lactação induzida - ao sugar o peito, o bebê estimula a produção de leite em que não engravidou. "Não é fácil, depende de muita vontade da mãe e de uma equipe bem preparada, mas é possível." Ele diz ainda que a amamentação artificial deve ser recomendada em casos muito específicos, como em mães portadoras de HIV e mulheres que se submeteram à retirada completa das mamas.
Outros laços
Para a psicóloga Tatiana Ferrentini, a decisão sobre a amamentação e qualquer outra que envolva a mulher e seu corpo devem ser tomadas individualmente.
"As campanhas excluem as mulheres que não podem ou não querem amamentar. Elas deveriam mostrar os dois lados da moeda."Tatiana explica que não é contra o aleitamento materno, mas duvida que uma mãe que amamente unicamente no peito por obrigação estabelece um bom vínculo afetivo com o filho. "Uma mulher que olha nos olhos do bebê enquanto dá a mamadeira, sente ternura por ele, cuida, se dá conta da maravilha que é aquele ser e estabelece um ótimo vínculo. Já a mãe que amamenta no peito enquanto fala no celular ou troca mensagens no MSN não está contribuindo para esse laço afetivo", diz. Para ela, a frustração das mulheres que não conseguem amamentar, em geral, não é levada em conta. "Uma mãe que sofre de uma doença infecciosa, por exemplo, já está emocionalmente debilitada. Alguns tratamentos são fortes e têm efeitos colaterais sérios. Essas mulheres são candidatas a depressão pós-parto. Acrescentar a isso a culpa por não poder amamentar o filho, fazê-las se sentir menos mães, só aumenta o problema."
Particularmente eu gostei do artigo,sempre tive uma noção bem romântica do que é amamentar, mas na prática não foi bem assim realmente amamentar não é tão simples,é desgastante demais e, hoje eu não sinto nenhuma culpa em admitir isso... minha filha mama até hj com quase 7 meses e eu não vejo a hora de desmamá-la, o cansaço é grande ela mama mais ou menos de 3 em 3 horas agora com início da alimentação esse intervalo tem aumentado um pouco. Acho que cada mãe sabe o que é melhor para vc e para seu filho creio que não devemos julgar nem condenar as mães que decidem desmamar seu filho antes dos 2 anos, aliás eu acho que para mim 2 anos seria demais.... penso que as campanhas não informam adequadamente e não preparam a mãe para as dificuldades encontradas no ato de amamentar,FALTA MUITA INFORMAÇÃO SOBRE ALEITAMENTO MATERNO. As campanhas só falam dos benefícios, mas ninguém entra na questão das dificuldades. Antes de ter filho, a gente vê uma mãe amamentando e acha que é o processo mais simples, natural e espontâneo do mundo. Não é bem assim... como já disse não é tão simples!!!!!